Estudos Medievais

  • PGEstudosMedievais@letras.ulisboa.pt

Apresentação

O Curso Pós-Graduado de Estudos Medievais é um curso pluridisciplinar, que congrega as contribuições das quatro Áreas científicas da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa – Ciências da Linguagem, Filosofia, História, Literaturas, Artes e Culturas (LAC) – no espírito do Grupo Interdisciplinar de Medievalismo Teresa Amado (GIMTA).

Um curso de Estudos Medievais oferece um espaço privilegiado para um profícuo cruzamento de áreas científicas e um fundamentado entendimento de fenómenos complexos, favorecendo a criatividade na construção de modelos originais e a procura de caminhos alternativos em contextos multidisciplinares.

Assenta num pressuposto, que se poderá discutir, de que existe uma certa unidade histórica e cultural a que chamamos “Idade Média” que se constitui como objecto de abordagens múltiplas feitas a partir de diferentes áreas científicas. Os proponentes estão conscientes de que as áreas aqui envolvidas não esgotam o universo de aproximações possíveis. A Geografia, a Antropologia ou a Economia, por exemplo, seriam muito bem-vindas. A proposta tem, nesse sentido, um carácter de Escola: emana da FLUL tal como ela é em 2014. Procura ao mesmo tempo reter uma muito importante tradição de estudos medievísticos no interior da FLUL – Aires A. Nascimento, A. Borges Coelho, A. Espírito Santo, A. H. de Oliveira Marques, António J. Saraiva, E. Borges Nunes, F. Gama Caeiro, Iria Gonçalves, Ivo de Castro, J. Cerqueira Gonçalves, José Mattoso, Júlia D. Ferreira, Leite de Vasconcelos, Leonor C. Neves, L. F. Lindley Cintra, Osório Mateus, Teresa Amado, Virgínia Rau – ao mesmo tempo que se propõe contribuir para resolver os problemas colocados pela crescente incomunicabilidade entre as diferentes áreas científicas que lhe serviram de suporte.

Ciências da Linguagem

A investigação em diversos domínios da Linguística, com incidência preponderante sobre o Português mas amplamente alicerçada em associações interdisciplinares, tem assegurado às Ciências da Linguagem o alargamento de conhecimentos científicos e o desenvolvimento de ligações transversais geradoras de novos saberes. No quadro do presente curso, o contributo da Linguística, nomeadamente da Linguística Histórica e da Crítica Textual, centra-se no processo de emergência das línguas vernáculas, bem como nas fontes (literárias e não literárias) que facultam o estudo desse processo. É certo que é necessário perceber o contexto histórico, social e cultural em que se desenvolveu a língua portuguesa para abarcar a complexidade da sua evolução, já que a análise da mudança linguística não deve dissociar-se da compreensão do momento da mudança. Mas observar como surgiu, se desenvolveu e afirmou a língua portuguesa não pode deixar de ser fundamental para enquadrar a elaboração literária, a evolução do pensamento e, até, o despertar histórico das entidades nacionais.

Para o estudante com formação em linguística será útil aceder à contextualização do seu objeto de estudo; para o estudante de História, Literatura, Cultura ou Filosofia, será, seguramente, útil conhecer os métodos que o linguista usa para estudar o património linguístico a partir de testemunhos documentais, a forma como edita e analisa os textos antigos e recupera estádios pretéritos da língua.

Filosofia

O presente curso provê ao estudo da filosofia medieval em contexto histórico-cultural. É certo que a pluralidade de hermenêuticas hoje disponíveis permite abordagens descontextualizadas dos textos, abstraindo-os do primitivo enquadramento histórico-cultural. Podemos ligar os textos ao contexto do leitor, lendo neles aspectos da actualidade deste, e fazemo-lo por vezes. Podemos também debater objectivamente os conteúdos dos textos, sem interesse por contextos, e fazemo-lo muitas vezes. Podemos até reconhecer, como a história da filosofia o atesta, que textos há que em muito excedem, no seu alcance e repercussão, a época em que foram escritos. Todavia, como poderemos apreciar esse alcance para além do ponto de partida, se perdermos toda a ligação com este? E como poderemos avaliar os ganhos e as perdas de qualquer leitura descontextualizada dos textos, se ignorarmos por completo o contexto epocal da escrita? Diversas hermenêuticas são possíveis e plausíveis, mas aquela que procura religar os textos aos seus contextos originários é a base de todas as restantes. Por isso, compreendemos melhor a filosofia medieval a partir da sua época, e qualquer outra hermenêutica não é verdadeiramente alternativa, mas apenas complementar.

Por outro lado, a época medieval corresponde a um mundo civilizacional complexo, no qual a filosofia germinava em meios confinados, como os scriptoria monásticos e, a partir do séc. XIII, também e sobretudo as universidades. Estas instituições de acolhimento da filosofia eram pertença do poder eclesiástico, um dos principais poderes na Idade Média, com ampla capacidade de intervenção social e política. Perceber como é que a filosofia moldou e foi moldada pelo seu compromisso com os poderes dominantes, como é que ela os moldou pela educação e foi por eles condicionada, nomeadamente, quando foi censurada, é compreender o lugar da filosofia na civilização medieval. E este é também um objectivo que não pode faltar a este curso pluridisciplinar de Estudos Medievais. Compreendemos melhor a Idade Média com do que sem a filosofia.

História

A ancestralidade da tradição da História medieval praticada em Portugal implicou quase sempre uma certa auto-contenção de práticas, sem prejuízo de alguns cruzamentos com a filologia, a linguística e a literatura vistas quase como ancilares. Se a exposição à renovação dos Annales desde os anos 50, permitiu integrar no discurso alguns problemas e metodologias vindas essencialmente das ciências sociais, não provocou no entanto uma idêntica revisão dos ensinos, quer ao nível graduado, quer pós-graduado, mantendo-se aí um evidente tradicionalismo na estrutura curricular. Uma das suas marcas está precisamente na ausência de programas interdisciplinares que acomodem a convergência de olhares diversos sobre fontes medievais.

Do ponto de vista da área de História assume-se a continuidade dos programas existentes em que a Idade Média ocupa lugar importante ou mesmo central (caso do mestrado em História do Mediterrâneo Islâmico e Medieval). Sobre esta base entende-se este curso como uma abertura de possibilidades de produzir investigação interdisciplinar através de uma formação pós-graduada, com áreas de contacto imediato. Não se entende esta aproximação condicionada apenas ao óbvio (por exemplo as pontes entre a história cultural e a literatura, a história do pensamento e das ideias e a filosofia ou a exegese das fontes e a linguística). Pensamos sobretudo na abertura possibilitada pela abordagem interdisciplinar das mesmas fontes.

Literaturas, Artes e Culturas

É impossível compreender a Idade Média sem conhecer as obras e os autores literários que lhe deram voz. Estudar os textos literários da Idade Média é também estudar os seus contextos específicos de produção que são variados e multifacetados pois a Idade Média não foi sempre a mesma ao longo do vasto período de dez séculos em que se enquadra. Esses dez séculos oferecem-nos uma produção literária muito extensa, nas diferentes línguas europeias, que, como é óbvio, foi acompanhando as próprias alterações culturais da época, testemunhando o nascer de novas estratégias poéticas e narrativas, como é o caso do aparecimento da figura do narrador e da criação de pontos de vista múltiplos associados a personagens diversificadas.

Se é certo que a obra literária não se reduz (nem se pode reduzir) a considerações de ordem histórica e social, pois, enquanto obra de arte, as ultrapassa largamente, a verdade é que essas considerações nos permitem entendê-la à luz de uma cultura determinada marcada por práticas discursivas específicas. Deste modo, estudar a literatura medieval portuguesa, francesa, inglesa, espanhola ou outras, é também estudar o seu contexto cultural, que integra aspectos de ordem estética, é certo, mas também se prende com questões do foro histórico, social, filosófico, político e ideológico.

A literatura medieval e os estudos medievais em geral são assim, dada a sua própria natureza, necessariamente intertextuais e pluridisciplinares. Porque a literatura medieval se organiza em torno de uma intertextualidade muito precisa firmada na citação e na invenção, porque existe uma partilha de temas e motivos comuns, a nível estético-literário entre as várias literaturas europeias, porque, até a nível político e social, se manifestam elos de união que transformam a Idade Média numa era exemplar no diálogo intercultural, porque é impossível desligar os textos dos seus contextos específicos de produção.

Por fim, conhecer a Literatura Medieval é saber reconhecer a sua apropriação em séculos futuros, o que se torna bem patente em obras de vários autores desde o século XIX até aos dias de hoje, estes especialmente marcados por uma tendência neomedieval que se manifesta em vários géneros textuais, como a Fantasia, a Ficção Científica ou a Banda Desenhada e os comics e ainda nos jogos de computador.

Estrutura Curricular do Curso

O Curso Pós-Graduado de Estudos Medievais tem a duração de dois semestres e é constituído por cinco unidades curriculares, duas condicionadas e três opcionais.

As duas unidades curriculares condicionadas são escolhidas entre quatro unidades curriculares, uma por Área, que asseguram a participação equitativa das quatro Áreas científicas da FLUL, e são concebidas de forma a garantir acessibilidade a um público não necessariamente especialista em cada uma das Áreas. No caso de, em algum momento, uma destas unidades curriculares não estar disponível, será substituída por uma UC a mais aproximada da Área a que pertence. De acordo com estes objectivos, as unidades curriculares condicionadas são as seguintes:

  • Filosofia e Teologia na Idade Média

  • História das Sociedades Medievais

  • Literatura e Poética na Idade Média

  • O Português e a Génese das Línguas Europeias

As três unidades curriculares opcionais são escolhidas pelo aluno a partir de uma lista de unidades curriculares variáveis em número e designação, dependendo da capacidade de oferta da FLUL em cada ano lectivo.

Podem também ser consideradas opcionais, as unidades curriculares condicionadas que não tenham sido escolhidas pelo aluno como condicionadas.

A cada unidade curricular corresponde a carga horária de 45 S + 15 O e o número de 12 ECTS.

O Curso perfaz 60 ECTS.

Regulamentação

Em cumprimento do Artigo 12º do Regulamento de Estudos Pós-Graduados da Universidade de Lisboa, publicado no Diário da República, 2ª série – N.º 57, de 23 de março de 2015, o Curso Pós-Graduado de Especialização em Estudos Medievais rege-se pelas seguintes disposições regulamentares relativas aos cursos pós-graduados não conferentes de grau

a) As regras para a admissão no curso

i) Condições de acesso: podem candidatar-se ao curso os titulares de grau de licenciado ou equivalente legal, ou ainda os titulares de um grau académico superior estrangeiro que seja reconhecido como satisfazendo os objectivos do grau de licenciado pelo Conselho Científico da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

ii) Critérios de selecção: na seriação dos candidatos, têm prioridade aqueles que obtiveram melhor classificação na licenciatura e os titulares de grau de licenciado em qualquer das 4 áreas científicas do curso (Ciências da Linguagem, Filosofia, História, Literaturas, Artes e Culturas).

iii) Vagas: 15

iv) Prazos de candidatura: de acordo com o calendário de candidaturas da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

b) Duração, estrutura curricular e plano de estudos do curso

i) Duração: 2 semestres

ii) Estrutura curricular: o curso é constituído por cinco unidades curriculares, duas condicionadas e três opcionais. As duas unidades curriculares condicionadas são escolhidas entre quatro unidades curriculares, uma por Área, que asseguram a participação equitativa das quatro Áreas científicas da FLUL, e são concebidas de forma a garantir acessibilidade a um público não necessariamente especialista em cada uma das Áreas. No caso de, em algum momento, uma destas unidades curriculares não estar disponível, será substituída por uma UC a mais aproximada da Área a que pertence. As três unidades curriculares opcionais são escolhidas pelo aluno a partir de uma lista de unidades curriculares variáveis em número e designação, dependendo da capacidade de oferta da FLUL em cada ano lectivo.

As duas unidades curriculares condicionadas são escolhidas entre quatro unidades curriculares, uma por Área, que asseguram a participação equitativa das quatro Áreas científicas da FLUL, e são concebidas de forma a garantir acessibilidade a um público não necessariamente especialista em cada uma das Áreas. No caso de, em algum momento, uma destas unidades curriculares não estar disponível, será substituída por uma UC a mais aproximada da Área a que pertence. De acordo com estes objectivos, as unidades curriculares condicionadas são as seguintes:

Filosofia e Teologia na Idade Média

História das Sociedades Medievais

Literatura e Poética na Idade Média

O Português e a Génese das Línguas Europeias

As três unidades curriculares opcionais são escolhidas pelo aluno a partir de uma lista de unidades curriculares variáveis em número e designação, dependendo da capacidade de oferta da FLUL em cada ano lectivo.

Podem também ser consideradas opcionais, as unidades curriculares condicionadas que não tenham sido escolhidas pelo aluno como condicionadas.


c) As condições de funcionamento do curso, processo de atribuição da classificação final e respectiva fórmula de cálculo

i) O curso é realizado pelos estudantes que obtenham aprovação, com classificação numérica (10-20), em cada uma das 5 unidades curriculares, condicionadas e opcionais, que fazem parte do plano de estudos.

ii) A classificação final do curso é a média aritmética das classificações obtidas nas 5 unidades curriculares previstas no plano de estudos.

iii) A realização do curso é atestada por um diploma, requerido pelo interessado nos Serviços Académicos da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e a ser emitido pelos mesmos Serviços, no prazo máximo de 30 dias úteis após a sua requisição.